Livro reúne histórias dos costumes dos chineses publicadas no jornal britânico "The Guardina" |
As colunas de "O Que os Chineses Não Comem" foram publicadas entre 2 de junho de 2003 e 9 de setembro de 2005, e testemunham também as surpresas de Xinran com a velocidade das mudanças na sociedade chinesa. Para além dos fatos, que muitas vezes assombram, há o modo de contar da jornalista, carregado de herança oriental, a começar pelo resumo que precede cada texto, já com gosto de fábula.
Pequenos apólogos, historietas que parecem suspensas num tempo distante, pontuam as experiências na China e na Inglaterra. Exemplar desse modo de pensar é o texto em que ela mostra como "os peixes servem para explicar a vida", e que inclui um curioso brinde feito por homens chineses para descrever as mulheres: "Amantes são peixe-espadas: saborosos, mas com ossos cortantes; secretárias particulares são carpas: quanto mais você as 'cozinha em fogo lento', mais sabor elas têm; as esposas dos outros são baiacus japoneses: provar um bocado pode ser o seu fim, mas arriscar-se à morte é um motivo de orgulho; as próprias esposas são bacalhau salgado: conservam-se por longo tempo; quando não há outro alimento, o bacalhau salgado é barato e conveniente, e complementa uma refeição com arroz".
A política do filho único e as meninas chinesas adotadas por ocidentais, mães superprotetoras temerosas por seus filhos que vão para a universidade no ocidente, a (falta de) autoconfiança dos chineses, o apreço por tudo que é estrangeiro num país que se transforma vertiginosamente, experiências gastronômicas e até futebol, além de arte, sexo e política permeiam as colunas.
É difícil, mas também bonita e delicada, a tarefa de Xinran. Nas coisas mais simples, como quando é surpreendia ao notar que continua usando meias compridas no verão - um hábito chinês que denota a boa origem da mulher -, ela detecta a impossibilidade de explicar seus costumes para os ingleses, e os dos ingleses para os chineses.
Mais ainda, Xinran tem consciência de que a China em que viveu ao mesmo tempo persiste e desaparece diante de seus olhos a cada visita que faz ao país. É assim, entre uma China que foi, é e será, e uma Inglaterra que se torna cada vez mais sua, que Xinran exercita esse ofício imperfeito de tradutora de culturas, chamando atenção para as pontes possíveis e para os vãos que se formam no caminho.
Fonte: Entretenimento.uol.com.br
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